Ações buscam ressignificar novos caminhos para autores de violência sexual

Para Lucas Ferreira, as formações e as trocas com profissionaius resultam em uma expansão do tema e provocam a pensar mais nessa atenção a esses adolescentes (FOTO: Divulgação/TDH)
Para Lucas Ferreira, as formações e as trocas com profissionaius resultam em uma expansão do tema e provocam a pensar mais nessa atenção a esses adolescentes (FOTO: Divulgação/TDH)

Em busca da prevenção e do enfrentamento do abuso sexual praticado contra crianças, adolescentes e jovens, o Elos de Proteção, projeto que é coordenado pelo Instituto Terre des Hommes Brasil (TDH), tem trabalhado para ressignificar a tenção dada a autores de crimes.

Esta ideia surgiu em 2021, quando foi realizada uma análise situacional sobre a temática da violência sexual que, quando se tratava do autor, aquele que cometeu o crime, não havia nenhum serviço, projeto ou programa que focasse nessa atenção, principalmente quando o responsável era adolescente.

Diante deste cenário, esta política foi agregada aos objetivos do Elos de Proteção.

“Na elaboração da análise situacional feita para subsidiar nossas ações do projeto, não conseguimos encontrar iniciativas que dessem atenção a adolescentes que foram autores de abuso sexual em Fortaleza. Porém, encontramos três estudos que se dedicam à temática: um na Universidade de Brasília (UnB), uma tese de mestrado produzida na Universidade Católica de Goiás (UCG) e o Programa Proinvert, executado no Estado de Goiás. Eles trazem a atenção a adolescentes que foram autores do abuso sexual com o objetivo de não reincidência, considerando o acompanhamento psicológico como parte do processo”, comenta Lucas Ferreira, psicológo do TDH.

Neste âmbito, busca na Psicologia esta intervenção em torno do adolescente que praticou abuso sexual. Porém, os estudos e trabalhos ainda são escassos.

“Aqui, por exemplo, na cidade de Fortaleza, ainda não têm profissionais da área que estudam essa temática dentro das universidades. Há possibilidade de existirem profissionais que atendam essa demanda no consultório, através da psicoterapia, mas que não há grandes registros como pesquisas. A psicoterapia é o principal meio de intervenção, através de um acompanhamento mais frequente, com o objetivo da quebra da violência e que não haja reincidência”, explica Ferreira.

O psicóloco salienta ainda que, levando em consideração, que muitas vezes adolescentes que foram autores de abuso sexual não são acompanhados, inclusive, por ainda existir um tabu em torno do assunto dentro das famílias, o atendimento psicológico é uma intervenção essencial de acompanhamento junto a esses adolescentes, para que quando ficarem adultos, essas violações não aconteçam novamente.

Já dentro do Elos de Proteção, o TDH disponibiliza atendimento psicológico, além de ações dentro do Projeto de Vida com os adolescentes, em que busca-se tomar conhecimentos sobre seus desejos e perspectivas de futuro e, assim, é traçado um caminho.

São realizadas ainda formações dos profissionais do Sistema de Garantia de Direitos em torno do tema; troca de experiências nacionais e até internacionais em busca de projetos e/ou programas que executem ações de atenção voltadas principalmente para adolescentes que foram autores de abuso sexual.

“Entendemos que a partir das formações com profissionais, as trocas resultam em uma expansão do tema e provocam a pensar mais nessa atenção a esses adolescentes, além da possibilidade de criação de programas e iniciativas com esse objetivo de acompanhamento”, comenta o psicólogo do TDH.

Hoje, após um ano de atividades dentro do Elos de Proteção, Lucas Ferreira salienta que as formações, tanto de organizações da sociedade civil quanto de organizações do poder público, têm sensibilidade com profissionais a proporem diálogos sobre o assunto.

Ao longo deste tempo, cinco adolescentes que foram autores de abuso sexual já foram acompanhados pelo Projeto, garantindo acesso aos atendimentos e construção do projeto de vida.

“Algumas ações foram realizadas com profissionais que estudam a temática a nível de Brasil, e é um grande avanço, conseguir estabelecer esses contatos e abrir esses espaços para outros profissionais. Trazer esse assunto à tona, dialogando sobre possibilidades de atenção a esses adolescentes é um caminho grande para sensibilizar instituições e profissionais, principalmente do poder público, e isso tem acontecido durante esse primeiro ano de execução do projeto”, finaliza Lucas Ferreira.

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