Com voz firme e em defesa dos territórios, juventude da Reaver incide politicamente e leva suas vivências e denúncias ao centro do debate climático global. O verde que abraça Belém parecia ainda mais intenso em novembro. O cheiro de mato que se mistura ao rio, as mangueiras gigantes que sombreiam a cidade e a abundância de água que corre como artéria viva da Amazônia serviam de lembrete constante da força desse território – que, por 12 dias, tornou-se simbolicamente a capital do Brasil. Ali, em Belém do Pará, concentravam-se as grandes decisões e disputas sobre o futuro do meio ambiente e a própria essência da luta por justiça climática. A Rede Ambiental de Valorização de Ecossistemas em Restauração (Rede Reaver), esteve com uma delegação de 19 jovens dos estados do Ceará, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Norte, ocupando entre os dias 10 a 16 de novembro de 2025, a COP30 e a Cúpula dos Povos. Juventude na linha de frente por justiça climática Três jovens — Lorena Kélvia, Renan e Inaiê — representaram oficialmente a Rede Reaver no Pavilhão da Blue Zone, local onde organizações do mundo inteiro se reúnem para negociar futuros possíveis. Desde o dia 10, a rede se posicionou com pautas dos direitos de crianças e adolescentes no centro das discussões socioambientais globais, em uma agenda coordenada pela Kindernothilfe. Nos diferentes painéis em que esteve presente, a Reaver levou consigo a realidade ambiental no Nordeste do Brasil, e as falas trouxeram a vivência de quem já sente na pele os efeitos da crise climática. Na segunda-feira (10/11), no Pavilhão da IOM, Lorena e Renan colocaram os direitos de crianças e adolescentes no centro da discussão sobre justiça climática, reforçando que não há adaptação possível sem proteção integral. Já na terça-feira (11/11), no Youth Pavilion, Lorena fez um chamado direto aos formuladores de políticas: “façam com que nos ouçam”, ecoando as demandas urgentes das juventudes periféricas do Nordeste. Ainda nesse dia, o Instituto Terre des Hommes Brasil, organização delegada da COP e articuladora da Rede Reaver, foi uma das 100 entidades contempladas na ação Sumaúma Digital, recebendo computadores voltados à inclusão digital e à educação ambiental, em iniciativa do Ministério das Comunicações. Na quarta-feira (12/11), ocorreu a Barqueata da Cúpula dos Povos, um ato simbólico que marcou a abertura do evento e reuniu cerca de 5 mil pessoas em embarcações no Rio Guajará. Também no mesmo dia, a Reaver retornou ao Youth Pavilion para o painel “From Testimony to Treaty”, reforçando que as demandas da juventude precisam se transformar em compromissos políticos concretos. Na quinta-feira (13/11), a incidência juvenil se ampliou com a participação de Bia, jovem da Rede Perifativa e integrante da Reaver, na LCOY Brasil. Ela representou a rede na entrega da Declaração Nacional das Juventudes pelo Clima – documento que reivindica responsabilidade política, justiça socioambiental e centralidade das juventudes nos processos decisórios. Na sexta-feira (14/11), o coletivo Sarigueia Akangatu conduziu um ritual de Toré com a Rede Reaver, na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde acontecia a Cúpula dos Povos. O encontro foi um momento de conexão ancestral, fortalecimento espiritual e reafirmação de vínculos entre os integrantes da rede. O sábado (15/11) foi marcado pela Marcha Global Pelo Clima, puxada pela Cúpula dos Povos Nacional. O momento foi marcado por protestos e ativismos em defesa da justiça climática, justiça ambiental, financiamento climático e o fim dos combustíveis fósseis. A marcha mobilizou certa de 70 mil pessoas em Belém. Ainda nesse dia, no UNFCCC Pavilion, a Reaver participou de um debate sobre empoderamento climático e proteção de direitos, reafirmando que crianças e jovens devem ser reconhecidos como protagonistas da ação climática. Durante o debate, Lorena Kelvia, também da Reaver Ceará, ressaltou: “O que nós enfrentamos como mulheres — incluindo as violências que vivenciamos nas ruas e até mesmo dentro de casa — se soma à falta de estrutura em nossos territórios. Vivemos com medo nas periferias por causa do crime, da ausência de investimento nas comunidades e nos nossos projetos. Então, seguimos na luta. Como mulheres, somos também as mais afetadas pela mudança do clima, somos nós que cuidamos de todos e estamos na linha de frente dos desastres, das crises e das soluções que ainda não chegam aos nossos territórios.” Já na programação da Cúpula, a Reaver abriu a mesa “Transição para quem, para onde?”, apresentando uma teatralização criada pelos próprios jovens – uma denúncia crítica e sensível sobre como projetos energéticos impactam e violam territórios periféricos e tradicionais. Para encerrar essa jornada, no domingo (16/11), no Goethe Institut, Inaiê e Maluy conduziram uma roda de conversa sobre a necessidade de descolonizar as políticas climáticas, trazendo perspectivas antirracistas e territoriais que questionam quem toma as decisões, a quem elas servem e quem continua sendo sacrificado em nome do chamado desenvolvimento. Justiça climática já! A Reaver ocupou Belém. Ocupou a COP, ocupou a Cúpula, o debate climático e ocupou também o direito de existir com dignidade. Deixou um recado claro: “Enquanto a juventude estiver organizada, não será calada. Enquanto houver desigualdades, haverá luta”. A Justiça climática não é só sobre pauta ambiental. É sobre desigualdades, raça, território e futuro. “Por instinto de sobrevivência da população civil, entendemos que precisamos trabalhar coletivamente. Nessa demanda por coletividade, vamos compreendendo as diversas problemáticas. Cada território tem sua dinâmica, suas questões sociais específicas, mas todas elas dialogam entre si”, comenta Inaiê, integrante da Reaver Ceará. É preciso questionar e entender que transição energética não pode ser apenas um novo nome para velhas violências, nem um mercado travestido de solução. É exigir reparação, redistribuição de poder e políticas que coloquem a vida, e não o lucro, no centro. Vanessa Feitosa, Assessora Técnica em Advocay do Instituto Terre des Hommes Brasil, entende que “aqueles que menos contribuíram para o colapso climático, povos indígenas, comunidades negras, quilombolas, ribeirinhas, rurais, trabalhadores informais, crianças e jovens, são os que mais sofrem seus efeitos.”, defende.