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As escolas municipais do Grande Mucuripe atendidas pelo projeto "Mucuripe da Paz" realizam círculos de diálogo e formação com alunos e professores para que sejam capacitados a promoverem no ambiente escolar e na comunidade.
O projeto “Mucuripe da Paz” atua em três escolas municipais de Fortaleza situadas no Grande Mucuripe, em Fortaleza (CE), com o trabalho de prevenção à violência com os adolescentes, os professores e a gestão e o fortalecimento do protagonismo juvenil. A Escola Municipal de Ensino Fundamental José Ramos Torres de Melo é uma das beneficiadas com as ações promovidas pela equipe técnica do Instituto Terre des hommes Brasil com o cofinanciamento da Kindernothilfe (KNH). A professora Drª Maria José Esmeraldo Rolim trabalha na escola e concluiu em 2013 uma pesquisa acadêmica sobre o tema da prevenção à violência para a sua tese de Doutorado que teve como tema “Análise de como os professores orientam os alunos a desenvolver ferramentas que harmonizem a sala de aula, prevenindo a violência, o bullying e as drogas nas escolas municipais de Fortaleza da SER II”, pela Universidad del Pacífico, no Paraguai. Além da tese, a professora Maria Esmeraldo é autora dos livros intitulados “Violência dos laços familiares aos bancos escolares”, lançado em 2013; e “A violência e o bullying nas escolas: como prevenir e corrigir”, lançado em 2011 e traduzido para os idiomas espanhol e francês.
Segundo ela, o que motivou a realização da pesquisa foi porque percebia que os alunos ficavam cerceados de aprendizagem e de autoestima quando eles eram excluídos por conta dos apelidos e das brincadeiras maldosas, o que faziam com que eles não se sentissem parte do grupo. “Os meninos tinham a vida deles tolhida por causa da violência simbólica, que é a violência mais grave, porque ela não é dita, mas sentida. Então, com a realização dos círculos de paz, começamos a conversar com eles e eles começaram a se abrir e a dizer o que sentiam e como estavam se sentindo naquele momento. Foi aí que resolvi pesquisar quais eram os índices de violência na rede municipal de educação de Fortaleza”, afirmou a professora. Ao longo do trabalho acadêmico, ela entrevistou 1.200 alunos e mais de 200 professores municipais de escolas situadas na área atendida pela Secretaria Executiva Regional II (SER II) da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
A profª Maria Esmeraldo é uma das professoras que realiza círculos de paz e debates com alunos da Escola Torres de Melo, com objetivo de construir uma cultura de paz no ambiente escolar.
Com relação à prevenção da violência, a professora Maria Esmeraldo acredita que os círculos de diálogo e de construção de paz que já ocorrem nas escolas municipais do Grande Mucuripe com a participação dos alunos e dos professores podem dar resultado objetivando a redução dos índices de violência escolar. “Os círculos de paz são uma maravilha e estão mudando a cabeça dos adolescentes para melhor, estão levando eles à reflexão. Os meninos se revelam e choram. Descobrimos que alguns deles, além de sofrerem violência de vários tipos, também já haviam cometido atos de violência contra si mesmos, porque eles não tinham como pedir socorro. Diante deste quadro, nós estamos cuidando destes casos e encaminhando para atendimento psicológico, para os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) e para o Conselho Tutelar”, relatou a docente. Para isto, ela considera relevante a formação dos próprios alunos e dos professores na metodologia dos círculos para que a prática se torne constante nas escolas.
Sobre o bullying, um dos assuntos tratados em sua tese de Doutorado, ela defende que é uma prática que sempre existiu nas escolas e que hoje ganhou uma repercussão maior porque é uma violência que passou a ser praticada também no meio virtual, que é o chamado “bullying cibernético”. “Hoje, os alunos fazem bullying, filmam e colocam na Internet. Então, é preciso que seja feito um trabalho de conscientização para combater o bullying na escola, porque às vezes o aluno acha que aquela prática não é tão maléfica, mas temos que mostrar para eles a extensão ou a repercussão daquilo na vida do outro”, disse Maria Esmeraldo. Segundo ela, em alguns casos, os alunos são vítimas de bullying ou de outras formas de violência no âmbito familiar e por isso a questão merece ser tratada com os pais dos alunos em reuniões para mostrar como está o comportamento das crianças e dos adolescentes e como eles chegam à escola, para que a violência seja prevenida na família e não aumente o ciclo da violência.
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